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Befreiungstheologe Frei Betto mit einer Analyse des politischen Moments in Brasilien

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PT e PSDB de máos dadas 

  Nunca vi cabeça de bacalhau,  mendigo careca, santo de óculos, ex-corrupto, nem filho de prostituta chamado  Júnior. Nunca imaginei que, fora dos grotões, onde o compadrio prevalece sobre  princípios ideológicos, veria uma aliança entre PT e PSDB. Mas o impossível  acontece em Belo Horizonte, com ampla aprovaçáo das bases petistas.  

 Mudei eu ou mudou o Natal? Sim, sei que Minas, onde nasci, é  terra estranha, o inusitado campeia à solta: mula-sem-cabeça, lobisomem,  chupa-cabra, discos voadores… Criança, vi na Praça Sete, na capital mineira,  uma enorme baleia exposta à visitaçáo pública na carroceria de uma jamanta. A  Moby Dicky embalsamada exalava um forte mau cheiro que obrigou as esculturas  indígenas do Edifício Acaiaca a tapar o nariz.

 O que foi feito da  grita do PT belo-horizontino sob oito anos de governo FHC? Em que bases  programáticas a aliança se estabeleceu? Quem cedeu a quem? Quem traiu seus  princípios políticos e históricos?

 Lembro dos anos 50/60, quando  o conservador PSD, de JK, fez aliança com o progressista PTB, de Jango. O  primeiro neutralizou o segundo. E o sindicalismo, até entáo combativo,  ingressou na era do peleguismo. No cenário internacional, o Partido  Trabalhista inglês aceitou aliar-se ao Partido Republicano dos EUA. Nunca mais  o inglês foi o mesmo, a ponto de apoiar a invasáo do Iraque.

 Só  uma razáo é capaz de explicar essa aproximaçáo de pólos opostos: a lógica do  poder pelo poder. Quando um partido decide que sua prioridade é assegurar a  seus quadros funções de poder, e náo mais representar os anseios dos pobres e  promover mudanças num país de estruturas arcaicas como o Brasil, é sinal de  que se deixou vencer pelas forças conservadoras. E náo me surpreende que nisso  conte com amplo apoio das bases, sobretudo quando se observa que a antiga  militância, impregnada de utopia, cede lugar a filiados obcecados por cargos  públicos.

 Tenho visto, em cinco décadas de militância, como  síndrome de Jó ameaça certos políticos de esquerda. Enquanto estáo fora do  poder e sáo oposiçáo, nutrem-se de uma coerência capaz de fazer corar sáo  Francisco de Assis. Alçados ao poder, inicia-se o lento processo de  metamorfose ambulante: princípios cedem lugar a interesses; companheiros a  aliados; lutas por ideais a vitórias eleitorais.

 Jó, submetido às  mais duras provas, perdeu tudo, exceto a fé, suas convicções. Tais políticos,  diante de um fracasso eleitoral ou perda de funçáo pública, esquecem os  princípios e valores em que acreditaram, defenderam, discursaram, escreveram e  assinaram, para salvar a própria pele. Horroriza-os a perspectiva de voltarem  a ser cidadáos comuns, desprovidos de mordomias e olhares bajuladores. Ainda  váo à periferia, desde que como autoridades, jamais como  militantes.

 Talvez eu tenha ficado antigo, dinossáurico, incapaz  de entender como um partido que sempre se aliou ao PFL, agora DEM, pode, de  repente, sentir-se à vontade de máos dadas com o PT. Náo que tenha preconceito  a peessedebistas. Sou amigos de muitos, incluído o governador José Serra. Mas  quem viver verá: se o candidato da aliança PT-PSDB for eleito prefeito de Belo  Horizonte, o palanque de Minas, nas eleições presidenciais de 2010, vai ser  aquela saia-justa.  

 Minas é uma terra de mistérios: tem  ouro preto, dores de indaiá, mar de Espanha, juiz de fora, rio acima e lagoa  santa. E fora de Minas tenho visto coisas que já nem me espantam: Sarney e  Delfim Netto apóiam Lula; o governo do PT aprova os transgênicos e a  transposiçáo do Rio Sáo Francisco; o Planalto petista revela gastos da gestáo  FHC e esconde os seus…

 Os tempos e os costumes mudam, já diziam  os latinos; as pessoas e os partidos também. Eu é que deveria ficar mudo, já  que teimo em acreditar que fora da ética e dos pobres a política náo tem  salvaçáo. Deve ser culpa de minha dificuldade de entender por que às vésperas  de eleições todos debatem nomes de candidatos. E náo propostas, programas e  prioridades de governo.
Frei Betto é escritor, autor de  ”A mosca azul “ reflexáo sobre o poder (Rocco), entre outros livros.  PT e PSDB de máos dadas
 

Dieser Beitrag wurde am Montag, 14. April 2008 um 19:04 Uhr veröffentlicht und wurde unter der Kategorie Politik abgelegt. Du kannst die Kommentare zu diesen Eintrag durch den RSS-Feed verfolgen.

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