Klaus Hart Brasilientexte

Aktuelle Berichte aus Brasilien – Politik, Kultur und Naturschutz

„Mein Name ist Krise“ – Brasiliens wichtigster katholischer Befreiungstheologe Frei Betto.

Adital – Há tempos náo se falava tanto de mim como agora. Tudo por causa de uma crise no sistema financeiro. A África anda, também há tempos, em crise crônica – de democracia, de alimentos, de recursos; quem fala disso?

http://www.hart-brasilientexte.de/2015/12/26/fidel-castro-venezuela-wir-und-die-demokratie-granma-internacional-dezember-2015/

Existe ameaça de crise do petróleo; governantes e empresários parecem em pânico frente à possibilidade de náo poder alimentar 800 milhões de veículos automotores que rodam sobre a face da Terra.

No último ano, devido ao aumento do preço dos alimentos, o número de famintos crônicos subiu de 840 milhões para 950 milhões, segundo a FAO; mas quem se preocupa em alimentar miseráveis?

Meu nome deriva do grego krísis, discernir, escolher, distinguir – enfim, ter olhos críticos. Trago também familiaridade com o verbo acrisolar, purificar. Ao contrário do que supõe o senso comum, náo sou, em si, negativa. Faço parte da evoluçáo da natureza.

Houve uma crise cósmica quando uma velha estrela, paradoxalmente chamada supernova, explodiu há 5 bilhões de anos; seus cacos, arremessados pelo espaço, deram origem ao sistema solar. O sol é um pedaço de supernova dotado de calor próprio. A Terra e os demais planetas, cacos incandescentes que, aos poucos, se resfriaram. Daqui a 5 bilhões de anos o sol, agonizante, também verá sua obesidade dilatada até se esfacelar nos abismos siderais.

Todos nós, leitores, passamos pela crise da puberdade. Doeu ver-nos expulsos do reino da fantasia, a infância, para abraçar o da realidade! Nem todos, entretanto, fazem essa travessia sem riscos. Há adolescentes de tal modo submersos na fantasia que, frente aos indícios da idade adulta, que consiste em encarar a realidade, preferem se refugiar nas drogas. E há adultos que, desprovidos do senso de ridículo, vivem em crise de adolescência…

Resulto da contradiçáo inerente aos seres humanos. Náo há quem náo traga em si o seu oposto. Quantas vezes, no trânsito, o mais amável cidadáo arremessa o carro sobre a faixa de pedestres; a gentil donzela enfia a máo na buzina; o aplicado estudante acelera além da conveniência! Náo é fácil conciliar o modo de pensar com o modo de agir.

Estou muito presente nas relações conjugais desprovidas de valores arraigados. Sobretudo quando a nudez de corpos náo traduz a de espíritos e o náo-dito prevalece sobre o dito. Felizmente muitos casais conseguem me superar através do diálogo, da terapia, da descoberta de que o amor é um exercício cotidiano de doaçáo recíproca. O príncipe e a fada encantados habitam o ilusório castelo da imaginaçáo.

Agora, assusto o cassino global da especulaçáo financeira. Acreditou-se que o capitalismo fosse inabalável, sobretudo em sua versáo neoliberal religiosamente apoiada em dogmas de fé: o livre mercado, a máo invisível, a capacidade de auto-regulaçáo, a privatizaçáo do patrimônio público etc.

Dezenove anos após fazer estremecer o socialismo europeu, eis-me a gerar inquietaçáo ao mercado. A lógica do bem-estar náo lida com o imprevisto, o fracasso, o inusitado, essas coisas que decorrem de minha presença. Os governantes se apressam em tentar acalmar os ânimos como a tripulaçáo do Titanic, enquanto a água inundava a quilha, ordenou à orquestra prosseguir a música…

Tenho duas faces. Uma, traz às minhas vítimas desespero, medo, inquietaçáo. Atinge aquelas pessoas que náo acreditavam em minha existência ou me encaravam como se eu fosse uma bruxa – figura mitológica do passado que já náo representa nenhuma ameaça.

Minha outra face, a positiva, é a que a águia conhece aos 40 anos: as penas estáo velhas, as garras desgastadas, o bico trincado. Entáo ela se isola durante 150 dias e arranca as penas, as garras, e quebra o bico. Espera, pacientemente, a renovaçáo. Em seguida, voa saudável rumo a mais 30 anos de vida.

Sou presença frequente na experiência da fé. Muitos, ao passar de uma fé infantil à adulta, confundem o desmoronar da primeira com a inexistência da segunda; tornam-se ateus, indiferentes ou agnósticos. Náo fazem a passagem do Deus „lá em cima“ para o Deus „aqui dentro“ do coraçáo. Associam fé à culpa e náo ao amor.

Acredito que este abalo na especulaçáo financeira trará novos paradigmas à humanidade: menos consumismo e mais modéstia no padráo de vida; menos competiçáo e mais solidariedade entre pessoas e empreendimentos; menos obsessáo por dinheiro e mais por qualidade de vida.

Todas as vezes que irrompo na história ou na vida das pessoas, trago um recado: é hora de começar de novo. Quem puder entender, entenda.

[Autor de „Cartas da Prisáo“ (Agir), entre outros livros].

Dieser Beitrag wurde am Samstag, 15. November 2008 um 15:41 Uhr veröffentlicht und wurde unter der Kategorie Kultur, Politik abgelegt. Du kannst die Kommentare zu diesen Eintrag durch den RSS-Feed verfolgen.

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