Beim Website-Interview in Sao Paulo.
„In Brasilien gibt es Fremdenfeindlichkeit, Rassismus. Es fehlt Bewußtsein dafür, daß man eine solidarische Gesellschaft aufbauen müßte. Ich habe etwas Hoffnung, bin aber desillusioniert. Denn man sieht von Jahr zu Jahr, daß sich die Dinge hier nicht ändern. Alles bleibt im immergleichen Zustand. Die brasilianische Demokratie ist krank. Eine der Säulen der Demokratie, der freie, mündige, kritische, bewußte Bürger, existiert in Brasilien nicht. In den letzten zweihundert, dreihundert Jahren hat man eine unkritische Masse geschaffen – unfähig, zu entscheiden. Ich bin Demokrat. Unsere Eliten sind immer kulturloser, ungebildeter. Niemand mag schlechtes, verdorbenes Essen – doch schlechte Informationen schlucken alle massenweise und völlig unkritisch. Wir sehen eine Verarmung des Kulturniveaus der Menschheit – ich fühle das extrem schmerzhaft. Schließlich war der Zugang zu Kultur noch nie so leicht wie heute. Alles ist leichter greifbar, ob gute Bücher oder gute Musik – doch man nutzt es nicht. Ein interessanter Aspekt – die Scheinheiligkeit in den persönlichen Beziehungen in Brasilien, die vieles verdeckt und versteckt. Wir Brasilianer übertreiben darin – entfernen damit den anderen. Der Brasilianer pflegt eine ferne, distanzierte Nähe, wie ich es nenne. Es scheint nur so, als ob eine Person einem sehr nahe ist – doch sie ist es nicht, sie ist weit weg. Großes Ziel, großer Konsumwunsch des Brasilianers ist jener american way of life unserer Eliten. Unglücklicherweise wird in Brasilien der einheimische Intellektuelle nur sehr selten geschätzt, hier fehlt intellektueller Dialog. Da man den Intellektuellen wenig Wert beimißt, kommunizieren sie wenig untereinander, führen ein bestimmtes Inseldasein. Einstein hätte seine Relativitätstheorie heute wohl nie publiziert, da er bei den Fachzeitschriften-Boards nicht durchgekommen wäre. Da hätte man wohl gesagt, sehr komisch, nehmen wir nicht, kommt nicht rein ins Blatt. In der Kunst haben wir dieses Problem mit den Kuratoren. Das ist gravierend – willkürliche Kriterien, Segregation – als Folge das Immergleiche. Wie läufts denn in den Medien: New York Times, Economist haben dies und das gesagt – also sagen wir das auch, so läufts doch. Deshalb ist heute das Internet so wichtig, um diese Einseitigkeit, dieses Schema zu umgehen. Die Rolle der Nachrichtenagenturen ist bedenklich, oft passierte doch vor Ort ganz anderes – Pressemagnaten kontrollieren die Information. Ich gab bereits Interviews, wonach man ganz anderes druckte, als ich gesagt hatte. Und worauf ich von anderen Experten beschuldigt wurde, Blödsinn zu verbreiten. Ich mußte dann wieder öffentlich klarstellen, ganz anderes gesagt zu haben. Doch solche Risiken muß man eingehen. Immer wird es schlechte Editoren, Manipulierer geben. Manche Leute entschieden deshalb, nichts mehr zu sagen. Ich fordere meine Kollegen stets auf: Wenn ihr es nicht aussprecht, wer wird es dann tun? Der Fußballer, der Pagodesänger, der schlechte Politiker, der jede Chance zum Reden sofort nutzt? Wenn wir schweigen, beherrschen diese Leute die Szene. Deshalb dürfen wir auch Risiken nicht scheuen!“
Beispiele banalster Art für auffällige Passivität lassen sich in Brasilien täglich überall beobachten: Selbst in Sao Paulos City stehen die Menschen häufig an den „Schnellkassen“ der Supermärkte in über hundert Meter langen Schlangen, warten brav über eine halbe Stunde lang – dagegen zu protestieren, daß nur etwa die Hälfte der Kassen besetzt ist, fällt niemandem ein. In Mitteleuropa würden die Supermärkte bereits aus Image-und Effizienzgründen dafür sorgen, daß die Kunden rasch bezahlen können. Gleiches gilt in Sao Paulo für den absurd schlecht organisierten Nahverkehr – Proteste gegen die enormen Wartezeiten, den hohen Verlust an Freizeit sind unüblich.
Militärdiktatur, Folter, Karneval in Rio de Janeiro, Kulturpolitik: http://www.hart-brasilientexte.de/2013/10/06/brasilien-populares-glucksspiel-wuchs-in-rio-de-janeiro-mit-hilfe-von-folterknechten-der-militardiktatur-laut-o-globo/
Scheiterhaufen „microondas“ – immer wieder von Zeitungen abgebildet, Teil der Gewaltkultur-Normalität.
Die Mittelschicht: http://www.hart-brasilientexte.de/2008/08/07/wie-tickt-eigentlich-brasiliens-mittelschicht-die-classe-media-ein-genialer-song-von-max-gonzaga-auf-youtube/#more-675
In der UNESCO-Bildungsstatistik liegt Deutschland auf Platz 13, Brasilien nur auf Platz 88. Entsprechend gering ist in Brasilien u.a. das Verständnis für deutsche Kultur – erheblich größer in Ländern Lateinamerikas, die bessere Plätze belegen. http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/ED/pdf/gmr2011-efa-development-index.pdf
Text zu Olympia-Bewerbung Rio de Janeiros: http://observatoriodoesporte.org.br/ouro-de-tolo-olimpico/
Weitere Texte von Dr. Claudio Guimaraes dos Santos, veröffentlicht in Brasiliens größter Qualitätszeitung „Folha de Sao Paulo“.Â
TENDÊNCIAS/DEBATES
Os artigos publicados com assinatura náo traduzem a opiniáo do jornal. Sua publicaçáo obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br A era das múmias CLÃUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS
Múmias de todas as classes, deixai de vos rebelar contra o destino! Conformai-vos com a finitude irremediável dos homens, do universo |
O PASSADO , náo há dúvida, é muito sedutor, já que se deixa „reescrever“ à vontade, sem maiores compromissos.
Sáo provas disso as confissões que se fazem a sacerdotes e terapeutas: nelas, os erros se disfarçam de acertos e os fracassos reluzem como sucessos. (Quantos anos de terapia ou de culto náo sáo, à s vezes, necessários para que um homem se reconheça como é, moderando o teor fantasista e benevolente dos seus relatos!…) Sáo também evidências da maleabilidade do passado os revisionismos com que topamos, amiúde, em alguns livros de história, em que bandidos e assassinos contumazes sáo transmutados -como que por encanto!- em exemplos edificantes de heróis martirizados (e vice-versa), ao sabor puro do viés ideológico dos historiadores.
Mais que tendência ligeira, o apego à s coisas que já se foram é traço saliente da nossa própria humanidade: do animismo rudimentar à mais elaborada religiáo, trata-se sempre dos mortos -ainda que lhes chamemos „deuses“- e dos rituais mais ou menos complexos que lhes sáo devidos.
Tal apego, todavia, pode também vir à luz de maneira patológica: seja como fixaçáo insensata no passado e em tudo que o evoque -tradições, objetos, ancestrais-, seja como desejo (paradoxal) de desfrutar uma eterna juventude, entretendo-se, sem descanso, com „novidades“ -um desejo no qual a atraçáo doentia pelo „velho“ é substituÃda, compensatoriamente, pela sede insaciável do „novo“.
Um exemplo evidente, ainda que nem sempre reconhecido, de fixaçáo malsá pelo passado é a tendência demasiado preservacionista que, já há algumas décadas, vem transformando alguns paÃses do „Ocidente desenvolvido“ num verdadeiro „paraÃso dos museus“. Essa tendência extravasou, recentemente, os limites do „mundo civilizado“, atingindo, entre outras „periferias“, a cobiçada Amazônia.
Após terem museificado os seus próprios territórios, alguns ecofilantropos querem, agora, semear os „tristes trópicos“ de incontáveis „museus a céu aberto“. Buscam, assim, transformar a terra alheia em „patrimônio da humanidade“ para seu uso (quase) exclusivo, onde possam dar vazáo, durante as férias, a anacrônicos devaneios rousseaunianos, retornando, depois, para o conforto tecnológico dos seus lares.
Um pouco mais e será só para esses novos Stings (e suas modernas filmadoras) que os nossos pobres indÃgenas -condenados, sem escolha, a um eterno arcaÃsmo- repetiráo os seus monótonos rituais, enclausurados em imensas redomas verdejantes.
Enquanto isso, nos cinturões de favelas que estrangulam as capitais brasileiras, milhões de indivÃduos -igualmente cidadáos- continuaráo mergulhados na miséria, espremidos entre o desprezo dos poderosos e a „negligência benigna“ do Estado.
Já no caso da negaçáo doentia do envelhecimento, era fatal que, nesta época táo epidérmica -tudo é „questáo de pele“-, tal recusa consistisse no esforço em perpetuar a aparência, já que é ela que denota, de modo direto e visÃvel, a indesejada passagem dos anos. E sáo as „celebridades“ -atrizes, polÃticos, apresentadores de TV, profissionais liberais, intelectuais- os que mais padecem desse mal.
Assistimos, assim, ao desfile deprimente de rostos inexpressivos, de olhos que náo se fecham, de bocas que náo sorriem, de ridÃculos implantes capilares, de magrezas cadavéricas, de peitos emborrachados, de bundas que extravasam a cintura das calças como as bordas de um „soufflé“.
Ignoro se tais caricaturas, que se apegam à juventude como a criança à chupeta, teráo tanto sucesso como os faraós do antigo Egito. Diga-se, porém, a seu favor que, com o auxÃlio da cosmética e da plástica, elas já lograram, pelo menos, mumificar-se ainda em vida!
Infelizmente, náo penso que possamos evitar que tipos como os historiadores revisionistas ou os ecofilantropos continuem a perseguir os seus funestos desÃgnios: seus espÃritos, mais do que seus corpos, é que foram mumificados. Sustenta-os, na sua busca, a doce ilusáo de estarem certos. Todavia é possÃvel que, com as outras múmias, nós tenhamos mais sucesso… Quem sabe ainda náo é tempo para despertá-las? Dirijamo-lhes, pois, um apelo sincero:
„Múmias de todas as classes, deixai de vos rebelar contra o destino! Conformai-vos com a finitude irremediável dos homens, das ideias, das nações, do universo… de tudo, enfim! Permiti que a vida, no seu fluir misterioso, vos transforme de uma vez em pó! Náo tendes nada a perder senáo o bolor de vossas ataduras! Múmias do meu Brasil, abandonai, para sempre, os vossos sarcófagos!“.CLÃUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS, 48, médico, psicoterapeuta e neurocientista, é escritor, artista plástico, mestre em artes pela ECA-USP e doutor em linguÃstica pela Universidade de Toulouse-Le Mirail (França). TENDÊNCIAS/DEBATES„Vox populi, vox Dei?“ CLÃUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS
Um criminoso de „gola branca“ e um assassino: por que o povo reage de maneira táo diversa perante esses dois tipos? |
A S TONELADAS de informações de baixa qualidade, „repercutidas“ dia e noite, sobre a trágica morte da pequena Isabella náo permitem aos que desejam preservar o senso crÃtico senáo concluir que o sacrifÃcio do intelecto é o alto preço que pagamos pela facilidade com que as notÃcias circulam no mundo contemporâneo.
De um lado, está o vergonhoso mercantilismo dos „meios de comunicaçáo“, bem mais preocupados em vender o seu „peixe“ do que em cumprir o importante dever de informar. De outro, temos a cólera da multidáo, ainda ontem táo pacata, que se despe, num segundo, da sua casca de civilidade e clama pelas cabeças dos suspeitos.
Para explicar a vileza dos abutres da imprensa, que contabilizam, sem culpa, os seus lucros sobre o corpo (ainda quente) de Isabella, podemos lançar máo de Adam Smith ou de Marx. Já a fúria incontrolável das massas exige, para ser entendida, que recorramos a Freud.
Se possÃvel, esqueçamos, por um momento, as novelas, as partidas de futebol, as revistas de fofoca, os programas de auditório apelativos, toda a mirÃade, enfim, de irrelevâncias com que nos „brinda“ a mÃdia onipresente e tentemos pensar um pouco levantando algumas questões.
Por que a multidáo náo se volta, com a mesma ira, contra os polÃticos corruptos, os empresários desonestos, os „religiosos“ picaretas, os fraudadores impudentes ou até mesmo -tristes tempos!- contra alguns „magnÃficos“ reitores? Por que náo se montam „campanas“ com banheiros quÃmicos também na frente das suas casas? Por que náo se almeja linchar tais criminosos de „máos limpas“ como se quer amiúde fazer com infanticidas, estupradores e pedófilos?
Será que os ditos crimes de „colarinho branco“ -„limpos“ só no nome- acarretam menor dano à sociedade do que os atos isolados, certamente hediondos, de alguns poucos indivÃduos, como pensam náo só os leigos, mas também legisladores e juristas?
Náo creio.
Um assassino, mesmo „produtivo“, só consegue destruir algumas vidas, precisamente as que se colocarem ao alcance da mira. Um criminoso de „gola branca“, porém, dependendo do tamanho do „golpe“, afetará a vida de milhões. Apenas, ele o fará de maneira lenta, menos cruenta, mais palatável à nossa época digital, esmigalhando os futuros de um monte de Isabellas de uma forma „quase indolor“.
Mas, se é assim, por que o povo reage de maneira táo diversa perante esses dois tipos de criminosos? As respostas sáo muitas. Mencionarei a que julgo a mais relevante e que é também, por isso mesmo, a que menos agrada ao senso comum.
As pessoas, de um modo geral, sentem-se „mais à vontade“ com os „criminosos de gravata“. Pensamentos como „a carne é fraca“, „eles roubam, mas fazem“ e, é claro, o famoso „no lugar deles eu faria o mesmo“ acabam por criar uma empatia profunda com tais delinqüentes, tornando-os, muitas vezes, merecedores de sincera admiraçáo. Tal se dá especialmente no Brasil, onde a „esperteza do malandro“ é louvada em prosa e verso.
Já no caso dos crimes hediondos, custa-nos aceitar que também nós podemos cometê-los. E, a náo ser que o indivÃduo disponha de um real autoconhecimento, obtido a duras penas pela análise corajosa do seu Ãntimo, jamais admitirá que sente, dormindo ou acordado, todo tipo de desejos inconfessáveis, o que inclui os impulsos infanticidas, parricidas, sadomasoquistas, pedófilos, homossexuais e tudo o mais que a sociedade costuma, em uma época ou outra, abominar.
Daà que essas pessoas que tanto se apressam em apedrejar náo pretendem, ao contrário do que crêem, obter a justa puniçáo para os culpados. Buscam, antes, evitar o encontro doloroso com a face mais horrenda da natureza humana, sem o qual nenhuma lucidez é possÃvel.
Mas, compreende-se… É táo mais agradável seguir inconsciente desse fato, afundando sempre mais na doce mediocridade das novelas, das partidas de futebol, das revistas de fofoca…
Infelizmente para todos nós, as pessoas inconscientes constituem, desde sempre, a grande maioria. Diante disso, fica fácil imaginar o que seria, por exemplo, dos brasileiros se passássemos a ser governados por meio de plebiscitos, num grotesco pesadelo rousseauniano, tal como defendem alguns polÃticos totalitários que fingem ser democráticos.
„Vox populi, vox Dei?“ Definitivamente náo. Precisamos, antes, ser mais humildes, reconhecendo que ainda estamos, enquanto espécie, muito longe de falarmos e de agirmos como deuses. Mas, afinal, o que isso importa, se o show tem que continuar?
TENDÊNCIAS/DEBATES
Aborto, embriões e o mea-culpa de Janine CLÃUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS
Ironicamente, os principais responsáveis por difundir essa imagem distorcida do conhecimento cientÃfico sáo os próprios cientistas
C OM A vinda do papa Bento 16, o debate sobre o aborto, bem como sobre a pesquisa cientÃfica com os chamados embriões inviáveis, ganhou o destaque que se esperava. De um lado, vociferam os que se dizem defensores intransigentes da vida („desde a concepçáo até o seu inevitável declÃnio“), um grupo bastante heterogêneo, formado náo apenas por cristáos, na sua maioria católicos, mas também por fiéis de outras religiões e até por alguns ateus.
Do outro lado, estáo os que se proclamam guerreiros incansáveis na „cruzada“ contra o obscurantismo religioso, os que se crêem verdadeiros „portadores da luz“ -que náo se percam pela soberba…- e, portanto, detentores inquestionáveis do monopólio da razáo. Uns e outros, a meu ver, estáo certos e errados, muito embora por motivos que todos eles parecem fazer questáo de ignorar.
Os que sustentam que as verdades da fé também devem ser levadas em conta sempre que é alterado, de forma relevante, o ordenamento jurÃdico de um Estado estáo certos em fazê-lo. Com efeito, toda lei, para ser realmente legÃtima, náo pode passar ao largo das normas religiosas que norteiam as vidas de milhões de cidadáos, ainda que elas o façam „apenas“ de fato, e náo de direito. Contudo, uma coisa é levar em conta um determinado ponto de vista; outra, muito diversa, é acatá-lo sem crÃtica ou ponderaçáo.
Erram, portanto, os que pretendem abusar do princÃpio metodológico da „escuta ecumênica“, em si mesmo uma importante salvaguarda. Pois náo se pode, impunemente, transformá-lo numa espécie de „imperativo totalitário“ a serviço de uma única opiniáo, seja ela a do papa ou a de um Prêmio Nobel. Afinal, as leis que iráo disciplinar cada uma dessas duas questões -o aborto e a pesquisa com os embriões inviáveis- teráo vigência nacional, aplicando-se, indistintamente, aos seguidores de qualquer credo ou opiniáo.
Estáo certos, por sua vez, os que afirmam que é necessário discutir esses temas polêmicos também à luz dos argumentos cientÃficos e da saúde pública, sopesando, com critério, os aspectos relacionados à proteçáo da saúde da mulher -no caso da legalizaçáo do aborto- ou das perspectivas para o tratamento de moléstias crônico-degenerativas -no caso do aproveitamento dos embriões inviáveis. Estáo errados, todavia, quando sustentam, certamente imbuÃdos de um positivismo ingênuo, que a ciência deve sempre ser tomada como o parâmetro absoluto, como o „fiel da balança do próprio Deus“.
Equivocam-se, portanto, quando descartam qualquer argumento que náo reconheçam como „cientÃfico“, por julgarem-no desprovido de objetividade, pouco importando o domÃnio a que se refira. Ao absolutizarem desse modo indevido o poder da ciência, essas pessoas acabam por cometer o mesmo erro que pensavam eliminar, adorando um Ãdolo no lugar de outro. Ironicamente, os principais responsáveis por difundir essa imagem distorcida do conhecimento cientÃfico sáo os próprios cientistas, muitos deles desprovidos de uma formaçáo filosófica que seja digna desse nome.
Tornam-se, por isso, freqüentemente, meros tecnocratas do conhecimento, mais preocupados com a gestáo das „verbas de fomento“ e a publicaçáo de resultados em „revistas de impacto“ do que com a reflexáo sobre a natureza complexa da ciência. Além disso, o próprio fazer cientÃfico, como qualquer atividade humana, é transitório e imperfeito e precisa, sim, ser fiscalizado pelos membros da sociedade em que se dá. Sáo eles, aliás, num Estado democrático, os únicos a ter de fato legitimidade para fazê-lo, permitindo ou proibindo comportamentos por meio das leis elaboradas pelos representantes que elegem periodicamente. Abrir máo desse princÃpio significaria admitir que a práxis cientÃfica está fora do alcance de qualquer controle ético, o que me parece absurdo.
É realmente uma pena que os integrantes desses dois grupos náo decidam, vez por outra, ponderar -náo somente com a razáo mas também com o sentimento- sobre as idéias e as crenças que sustentam. Se o fizessem, talvez se tornassem mais humildes e, com isso, mais capazes de reconhecer os seus equÃvocos. Assim como o fez Renato Janine Ribeiro, tempos atrás, num corajoso e sincero mea-culpa, publicado neste mesmo jornal, que motivou táo intensas reações, precisamente porque foi lúcido.
CLÃUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS, 47, médico, neurocientista e escritor, é doutor em lingüÃstica pela Universidade de Toulouse-Le Mirail (França), professor da pós-graduaçáo em morfologia da Unifesp (Universidade Federal de Sáo Paulo) e coordenador da Unidade de Reabilitaçáo Neuropsicológica.TENDÊNCIAS/DEBATESOs artigos publicados com assinatura náo traduzem a opiniáo do jornal. Sua publicaçáo obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.brAo mestre, com carinho CLÃUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS
Este momento da história é perigoso. Muitos de nós tornam-se táo „civilizados“ que nem mais conseguem resistir à barbárie |
OUTUBRO, MÊS em que os ingênuos comemoram crianças e professores, é uma boa época para refletir sobre o triste estado da educaçáo brasileira. Para tanto, será útil examinar de que maneira os principais atores envolvidos entendem esse tema táo complexo.
Há os que vêem a educaçáo como um mero instrumento para a formaçáo de trabalhadores qualificados -de preferência, com pós-doutorado e MBA-, sem os quais é impossÃvel aumentar a produtividade das empresas. Esses „devotos do progresso“ náo desejam, portanto, formar indivÃduos complexos e transdisciplinares, mas apenas „aleijões especialistas“ que se encaixem sem folgas no circuito produtivo-consumista. Há, porém, os que defendem uma espécie de „novo humanismo“, concebido como uma reaçáo à visáo utilitarista do conhecimento que caracteriza o primeiro grupo. Infelizmente, a maior parte desses „neo-humanistas“, entre os quais há muitos educadores, afunda-se cada vez mais num misto de relativismo pós-moderno e rebeldia sem causa, mostrando-se ainda órfá dos movimentos contestatórios dos anos 1960/1970. Por terem confundido -tolamente- autoridade com autoritarismo, esses „velhos revolucionários“ já náo sabem o que dizer aos professores quando estes sáo grudados -de verdade!- em suas cátedras ou atingidos por bofetadas (nada democráticas) de adolescentes quadrilheiros que desejam somente direitos e nenhum dever, constituindo, ironicamente, o resultado mais visÃvel das pedagogias libertárias…
Há, por fim, os que parecem „estar pouco se lixando“ para a questáo da educaçáo. Trata-se, todavia, somente de aparência…
Exibindo uma alta escolaridade, os membros desse terceiro grupo -banqueiros fraudulentos, polÃticos desonestos, religiosos impudentes, empresários espertalhões- têm profunda nostalgia do tempo em que o Brasil era „uma ilha de letrados num mar de analfabetos“. Por isso, náo medem esforços para perpetuar o estado de ignorância do „resto“ da populaçáo, já que as suas vidas nababescas dele dependem crucialmente.
Além disso, por meio de leituras abusivas do nobre artigo 5º da Constituiçáo de 1988 -das quais somente os „grandes letrados“ sáo capazes-, essa gangue vai ficando sempre impune e cada vez mais poderosa, dando um exemplo „edificante“, sobretudo aos cidadáos mais jovens.
Alheios a tudo isso, lá no ventre da „linha de montagem“ em que muitos brasileiros sáo forjados, um punhado heróico de professores -despreparados e mal pagos- continua crendo que ensina a um contingente imenso de alunos, que „colaboram“ com os mestres acreditando que aprendem.
Sem falar, é claro, da multidáo de governantes „prestimosos“ que fingem que se importam…
Nessa tragédia de erros mais ou menos voluntários, acabamos por perder, salvo honrosas exceções, o aspecto essencial do processo educativo: formar indivÃduos equilibrados, responsáveis, solidários, criativos, conscientes das imperfeições da natureza humana, mas ainda assim desejosos de construir um sentido para as suas vidas que seja mais denso do que a acumulaçáo de riqueza ou do que a busca desenfreada pela fama.
E o resultado dessa perda crucial, nós o vemos diariamente: um número sempre maior de pessoas desprovidas de coragem para enfrentar o absurdo da existência, agarrando-se a qualquer coisa que lhes permita esquecer a irrelevância das suas vidas; que buscam inutilmente nos outros o que só podem obter em si mesmas e que por isso mergulham num egoÃsmo malsáo, que tudo pede e nada dá, que tudo suga e nada fecunda; que abdicam da lucidez em nome de qualquer credo, perdendo-se no anonimato dos rebanhos e entregando-se, por fim, aliviadas, à redençáo da mediocridade.
Espero equivocar-me, mas julgo que vivemos um momento muito perigoso da história mundial, em que a sobrevivência de um pensamento independente e crÃtico é quase impossÃvel. No caso brasileiro, ao contrário do que se diz, poucas vezes houve um patrulhamento ideológico táo intenso. Apenas ele é, hoje, mais sutil -quase transparente-, já que, graças à „deseducaçáo“, a censura náo opera mais „de fora“, mas „de dentro“ das cabeças, coadjuvada pelo massacre midiático do politicamente correto.
Muitos de nós tornam-se, por isso, táo „civilizados“ que nem mais conseguem resistir à barbárie. Eu lamento, professores e crianças, mas náo há muito o que festejar.CLÃUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS, 48, médico, psicoterapeuta e neurocientista, é escritor, artista plástico, mestre em artes pela ECA-USP e doutor em lingüÃstica pela Universidade de Toulouse-Le Mirail (França). TENDÊNCIAS/DEBATESDroga! CLÃUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS
Vamos tratar de um assunto espinhoso: a investigaçáo das verdadeiras razões pelas quais as drogas sáo táo buscadas por nós humanos |
O CRESCIMENTO exponencial do consumo de drogas, que é tanto maior quanto mais amplo for o significado atribuÃdo à palavra, é um dos temas que mais preocupam a sociedade contemporânea. Curiosamente, o quase-consenso entre os especialistas de que a melhor maneira de diminuir esse consumo é o combate sem tréguas ao narcotráfico faz com que muitos deles se esqueçam -ou prefiram se esquecer…- de tratar de um assunto bem mais espinhoso: a investigaçáo das verdadeiras razões pelas quais as drogas sáo táo buscadas por nós humanos.
Tal negligência parece-me notável, já que é precisamente a imensa demanda por drogas de todos os tipos -do álcool ao ecstasy, passando pelo videogame, pelos cultos fundamentalistas e pelos livros de auto-ajuda, sem esquecer, é claro, o „futebor“- que faz com que elas se transformem num problema táo importante. E por que isso ocorre?
A minha suspeita é que essa investigaçáo só pode ser encetada por quem se disponha a colocar em xeque o próprio ethos consumista e competitivo que anima a sociedade em que vivemos. Mas, para tanto, é preciso coragem, pois balançar o alicerce mais bem protegido da nossa civilizaçáo pode trazer conseqüências desagradáveis para a saúde dos que ousarem fazê-lo. E coragem -sinto dizê-lo- é um „bem escasso“ em nossos dias…
Tal investigaçáo, evidentemente, náo poderá jamais ser realizada com base no utilitarismo objetivista e „industriofÃlico“ que predomina na ciência contemporânea, segundo o qual um „alto Ãndice de produtividade acadêmica“ é muito mais relevante do que a qualidade ou a originalidade do que, de fato, é produzido.
Com efeito, o que esperar de uma época em que muitos dos profissionais de saúde que tratam dos usuários de drogas (concebidas como „coisas ruins“) acreditam, de forma ingênua, que as doenças mentais seráo, um dia, inteiramente curadas por drogas (concebidas como „coisas boas“)?
O que esperar dos alienistas cibernéticos, dignos êmulos de Simáo Bacamarte, que se contentam em rotular o existir humano, incapazes que sáo de compreendê-lo, „medicalizando-o“ até a náusea? Que se comprazem em atulhar de „transtornos mentais“ a já abarrotada psicopatologia, na ânsia de adequá-la à s exigências da moda e do mercado?
O que esperar desses herdeiros frustros de Paracelso, que sáo iludidos pelos conglomerados farmacêuticos e vivem sonhando com „pÃlulas da felicidade“ capazes de tratar -para sempre e sem recaÃdas- o chamado „mal de vivre“, que corrói a humanidade desde Adáo (ou desde a australopiteca Lucy, para os que preferem um mito fundador „mais cientÃfico“ para a nossa espécie)?
O que esperar desses tecnólogos do espÃrito, que primeiro se convencem de que as pessoas sáo computadores e depois se surpreendem quando elas agem -e reagem- como seres humanos?
O que esperar desses burocratas da alma, que desconhecem a riqueza conceitual de um Jung, de um Diel, de um Freud; que nada sabem das sutilezas psicológicas de um Stendhal, de um Flaubert, de um Machado; que jamais leram Platáo, Hegel ou Heidegger; e que se curvam, por isso mesmo, maravilhados, ao didatismo superficialÃssimo da terapia cognitivo-comportamental, essa „sopa“ requentada das idéias de Skinner, entremeadas de cognitivismo mal digerido e temperadas com pitadas de neurociência „fashion“? O que esperar de tal visáo da natureza humana? Quase nada.
E, todavia, é justamente nessa visáo que a sociedade apavorada -e que náo sabe mais para onde fugir, porque tem medo de si mesma- pretende jogar as últimas fichas. Incapazes de controlar os cidadáos por meio do famoso poder de polÃcia, os dirigentes da sociedade encurralada apelam para essa óptica psicofilosófica mÃope, na esperança vá de que ela possa auxiliá-los a encontrar algum tipo de „soluçáo final“ para o problema das drogas.
Buscam, entáo, eliminar com os traficantes também os incômodos consumidores -que nunca deveriam ter existido!…-, apondo-lhes um rótulo diagnóstico conveniente e relegando-os a alguma „gaveta“ taxonômica, da qual, com um pouco de sorte, náo sairáo jamais, como se fossem lacrados numa (asséptica) câmara de gás…
(Agem, assim, táo tolamente quanto os adultos que hipersexualizam as crianças e depois se queixam da explosáo da pedofilia…) Perante tudo isso, as pessoas de bom senso decerto lamentaráo o estado deplorável em que nos encontramos. Contudo, náo desanimemos! Sejamos „proativos e otimistas“, como aconselham os „gurus“ de plantáo… Afinal, as coisas sempre podem piorar…
Mas que droga!
CLÃUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS , 48, médico, psicoterapeuta e neurocientista, é escritor, mestre em artes pela ECA-USP e doutor em lingüÃstica pela Universidade de Toulouse-Le Mirail (França).http://www.youtube.com/watch?gl=DE&hl=de&v=_Zc7gBKV_Vghttp://www.hart-brasilientexte.de/2009/06/08/jurandir-freire-costa-therapeut-professor-an-der-staatsuniversitat-von-rio-de-janeirouerj-in-brasilien-herrscht-ethisch-moralische-schizophrenie/Rogerio Reis: http://www.hart-brasilientexte.de/2009/10/07/rogerio-reis-microwaves-microondas-fotoinstallation-uber-scheiterhaufen-brasiliens-vom-maison-de-la-europeenne-de-la-photographie-in-paris-angekauft/http://www.hart-brasilientexte.de/2008/04/08/lateinamerikas-katholische-nachrichtenagentur-adital-der-individualistische-und-wenig-solidarische-charakter-des-brasilianers/Glückszahl und Flugzeugunglück: http://www.hart-brasilientexte.de/2009/06/02/flugzeugungluck-und-jogo-do-bicho-flugnummer447-und-airbustyp330-massiv-als-gluckszahl-ausgewahlt-a-vida-como-ela-e/ “Krise – was denn für eine Krise?” – Kloake-Slum in Sao Paulo.Amnesty Journal 2009:“KOPF UNTER WASSERGravierende Menschenrechtsverletzungen offiziell abzustreiten oder zu vertuschen, kommt heutzutage bei der internationalen Gemeinschaft schlecht an. Das weiß auch die brasilianische Regierung und geht deshalb seit langem einen anderen Weg: Mit erstaunlicher, entwaffnender Offenheit wird in- wie ausländischen Kritikern bestätigt, dass sie völlig im Recht seien. Man sehe die Dinge ganz genau so und habe bereits wirksame Schritte, etwa zur Abschaffung der Folter, eingeleitet. Doch auf die Worte folgen meist keine Taten. Menschenrechtsaktivisten wie der österreichische Pfarrer Günther Zgubic, der die bischöfliche Gefangenenseelsorge in Brasilien leitet, vermissen seit Jahren deutliche Worte von deutscher Seite. Schließlich ist Lateinamerikas größte Demokratie ein wichtiger strategischer Partner von Deutschland, und die Regierung in Berlin spricht gerne von den “gemeinsamen Werten”, die beide Staaten verbinden würden. Mit dem Menschenrechtsbeauftragten der Bundesregierung, Günter Nooke, hat jetzt zum ersten Mal endlich ein hochrangiger deutscher Politiker in der Hauptstadt Brasilia die Probleme offen angesprochen.
Zgubic erinnert immer wieder an die wohlklingenden Versprechungen, die Präsident Luiz Inácio Lula da Silva bei seinem Amtsantritt 2003 verkündet hat: “Er hat öffentlich erklärt, dass er Folter und andere grausame, unmenschliche Praktiken nicht mehr duldet.” Leere Worte aus Brasilia, denn nach Informationen von Zgubic existiert die Folter in allen Varianten, um Geständnisse zu erzwingen: “Es werden Elektroschocks eingesetzt, man presst den Kopf unter Wasser. Auf allen Polizeiwachen Brasiliens werden Häftlinge gefoltert”, meint Zgubic.
Nun sieht er sich überraschend durch Nooke bestätigt. “Stehen Menschenrechtsprobleme wie die unsägliche Folterpraxis beim Staatspräsidenten ganz oben auf der Prioritätenliste? Wieso wird nicht stärker kritisiert, dass die Regierung alle internationalen Verpflichtungen eingeht, ohne sie dann auch konsequent umzusetzen? Wir merken, dass sich Brasilien beim Thema Menschenrechte von Europa entfernt”, erklärte Nooke kürzlich. Brasilien dürfe im Menschenrechtsbereich nicht abdriften.
Doch vielleicht ist dies längst passiert. Paulo Vannuchi, Leiter des Staatssekretariats für Menschenrechte in Brasilia, hatte in der Zeitung “Folha de São Paulo” betont, dass das brasilianische Strafgesetz die Todesstrafe zwar nicht vorsehe, dennoch aber täglich außergerichtliche Exekutionen stattfinden würden. Gemeinsame Werte? Pedro Ferreira, Anwalt bei der bischöflichen Gefangenenseelsorge, findet es bedrohlich, dass selbst nach offiziellen Angaben derzeit über 126.000 Häftlinge trotz verbüßter Strafe illegal weiter festgehalten werden.
Ehemalige Gegner der Diktatur (1964 bis 1985) weisen zudem auf die fatalen Folgen der nicht bewältigten Gewaltherrschaft hin. Nicht einmal die Öffnung der Geheimarchive aus der Zeit der Diktatur sei unter Lula veranlasst worden, kritisiert Bundesstaatsanwalt Marlon Weichert aus São Paulo. Die Straflosigkeit inspiriert seiner Meinung nach jene Staatsfunktionäre, die heute im Polizeiapparat und im Gefängnissystem “Folter und Ausrottung” betrieben. Mit leeren Worte kann man an diesen Zuständen wohl kaum etwas ändern.
Von Klaus Hart.
Der Autor ist Journalist und lebt in São Paulo.
BRASILIEN
Die “Hölle auf Erden”
Revolten, Hungerstreiks und Aids bestimmen den Alltag in den völlig überfüllten brasilianischen Gefängnissen. Brasilien gilt zwar als die zehntgrößte Wirtschaftsnation, leistet sich aber Haftanstalten, die man eher in Ruanda oder Burundi vermuten würde. Eine im April verkündete Amnestie entspannte die Situation nicht.
Eine mittelalterlich anmutende Gefangenenzelle in Rios Stadtteil Realengo: Jeder der mehreren Dutzend Insassen hat laut Gesetz Anspruch auf mindestens acht Quadratmeter – hier ist es nicht mal ein einziger. Geschlafen wird deshalb in Schichten. Während ein Teil der Gefangenen auf feuchtem Boden liegt, schlafen die anderen in Hängematten, die an den Gitterstäben befestigt sind. In einer Zelle im Stadtteil Bangu ein ähnliches Bild: 35 fast nackte, schwitzende Männer auf nur sechzehn Quadratmetern bei beißendem Fäkaliengeruch und nächtlichem Besuch von Ratten. Die psychische Spannung ist fast mit Händen greifbar. Neun von zehn Gefangenen haben Furunkel, in der heißesten Jahreszeit herrschen bis zu 60 Grad. Dann fallen täglich etwa 20 Insassen ohnmächtig um, werden von den Wärtern herausgezerrt und durch andere ersetzt.
Um aus dieser Hölle herauszukommen und in eine weniger überfüllte Zelle verlegt zu werden, bestechen Häftlinge ihre Aufseher mit bis zu umgerechnet 5.000 Mark. Es gibt brasilianische Gefängnisse, in denen die Insassen das nötige Geld sammeln, um dann die Begünstigten auszulosen. In Bangu kommen die notwendigen “Real” von der Familie oder Verbrechersyndikaten – je unerträglicher die Hitze, desto höher die Preise auf diesem Schwarzmarkt. Einmal am Tag gibt es schlechtes Essen; die Lebensmittelpakete der Angehörigen werden gewöhnlich nicht ausgehändigt.
Folter ist üblich. Ein Anwalt beschreibt einen Fall von 1996: “Polizisten mit Kapuzen mißhandelten 116 Gefangene, unter anderem mit Elektroschocks. Alle wiesen Blutergüsse auf, wurden zudem zu sexuellen Handlungen gezwungen.” Fast täglich werden Fälle zu Tode gefolterter, erschlagener Häftlinge bekannt – die politisch Verantwortlichen bleiben meist passiv. Nur wenige Intellektuelle protestieren, die Gesellschaft scheint sich an die grauenvollen Zustände gewöhnt zu haben.
Pervertieren statt resozialisieren
Menschenrechtsorganisationen wie amnesty international oder “Human Rights Watch” prangern die Zustände in den brasilianischen Haftanstalten an – und auch die Gefangenenseelsorge der Katholischen Kirche läßt nicht locker. Padre Geraldo Mauzeroll von der “Pastoral Carceraria” im Teilstaat Sao Paulo gegenüber dem ai-Journal: “Wer ins Gefängnis kommt, wird pervertiert, wird angesehen und behandelt wie ein Tier – niemand ist an einer Besserung oder Resozialisierung interessiert. Die Gesellschaft rächt sich an ihnen, läßt sie intellektuell, spirituell, moralisch und kulturell und nicht selten sogar physisch sterben.” Mauzeroll hört in Polizeiwachen und Gefängnissen sehr häufig den Ausspruch: “Nur ein toter Häftling ist ein guter Häftling!” Der Padre geht seit 1973 in die “Presidios” – was er täglich sieht, sind Bilder wie aus Horrorfilmen: Tuberkulose grassiert, über die Gesichter Todkranker laufen Ameisen. Häftlinge verfaulen buchstäblich in Zellen. Die Gefängnisärzte sind selbst kriminell, weil sie Kranke bewußt
nicht behandeln, sondern sterben lassen. Sie werden aber nie zur Rechenschaft gezogen. Kriminell handeln auch Richter und Staatsanwälte, die über Folter und alle anderen Menschenrechtsverletzungen detailliert informiert sind, jedoch nicht eingreifen.
Das Gefängnispersonal verkauft Lebensmittel, die für Häftlinge bestimmt sind und ermöglicht Rauschgifthandel und -konsum hinter Gitterstäben. Ein Gefängnisdirektor: “Drogen müssen dort drin sein, damit die Gefangenen ruhig bleiben.”
Erzwungenes Schweigen, Morddrohungen
Ein dunkles Kapitel ist auch die sexuelle Gewalt, von Aufsehern sogar gefördert. Mauzeroll zum ai-Journal: “Wird ein wegen Vergewaltigung Verurteilter eingeliefert, stecken die Wärter ihn in bestimmte Massenzellen, damit er dort von 15 oder 20 Häftlingen vergewaltigt wird. Dies ist Gesetz in den Kerkern, und so verbreitet sich Aids sehr schnell.” Nach amtlichen Angaben infizierten sich bereits mehr als 20 Prozent aller Inhaftierten mit dem HIV-Virus – ein Großteil der rund 150.000 brasilianischen Gefangenen hat homosexuellen Verkehr, gewöhnlich ungeschützt.
Vitor Carreiro teilte in Rio de Janeiro jahrelang eine Zelle mit 47 Gefangenen. Er ist von Aids gezeichnet und sagt: “Alle Welt weiß, daß die Frau des Gefangenen der andere Gefangene ist.” Promiskuität ist der Alltag: José Ferreira da Silva, HIV-positiv, berichtet von vier festen und acht gelegentlichen Partnern – keiner benutzt Präservative.
Padre Mauzeroll drückt sich im Gegensatz zu vielen “politisch korrekten” Landsleuten nicht um unbequeme und unangenehme Wahrheiten. Er hat keine Probleme, die von den Autoritäten gerne versteckten und verdrängten Probleme offen anzusprechen. “Wer über die Zustände redet und informiert, stirbt”, lautet eine andere Regel. Berufskiller erledigen das – Mauzeroll weiß, daß auch sein Leben in Gefahr ist. Dennoch klagt er offen die soziale Ordnung Brasiliens an: “Diese ist schuld an der Situation.”
Gemäß einer neuen Studie der Vereinten Nationen lebt heute fast die Hälfte der 150 Millionen Brasilianer in verhältnismäßig entwickelten Gebieten. “Wenn in Sao Paulo und Rio de Janeiro die Lage in den Gefängnissen bereits so schlimm ist”, gibt Padre Mauzeroll zu bedenken, “wie muß sie dann erst in den stark unterentwickelten Regionen des Nordens und Nordostens sein?”
Amnestie nur Kosmetik
Die Rechtsanwältin Zoraide Fernandez weist darauf hin, daß Häftlinge nach verbüßter Strafe oft noch jahrelang gefangengehalten werden. 1995 waren es allein in Rio mindestens 560.
Brasiliens Staatschef Fernando Henrique Cardoso verkündete im April die, wie es offiziell hieß, größte Amnestie in der Geschichte des Landes: Etwa zehn Prozent der Gefangenen sollten freikommen. Wie die Gefängnisbehörden inzwischen einräumten, werden beispielsweise im Teilstaat Rio de Janeiro nur wenig mehr als ein Prozent amnestiert. Die 511 Gefängnisse bieten Platz für höchstens 60.000 Personen, sind aber nach jüngsten offiziellen Angaben mit 148.760 Häftlingen belegt – das sind 15 Prozent mehr als 1994. Notwendig, so hieß es, sei der Bau von 145 zusätzlichen Haftanstalten. Die Lage in der Metropole Sao Paulo ist den Angaben zufolge am dramatischsten. Eine Besserung ist nicht in Sicht: Per Haftbefehl suchte man allein 1996 rund 275.000 Straftäter.
Rund 95 Prozent der Häftlinge sind Arme, 96 Prozent sind männlich und etwa drei Viertel Voll- und Halbanalphabeten. Der typische Gefangene, so eine Studie, ist dunkelhäutig und jünger als 25 Jahre. Jeden Monat kommt es laut Statistik zu mindestens drei großen Häftlingsrevolten, die meisten werden allerdings der Öffentlichkeit verschwiegen. Eine Ausnahme bildet lediglich der südliche, relativ hochentwickelte Teilstaat Rio Grande do Sul – nur dort soll es auch keine irregulär festgehaltenen Häftlinge geben.
Wärter und Spezialeinheiten gehen gewöhnlich äußerst brutal gegen meuternde Häftlinge vor: 1992 wurden im berüchtigten Gefängnis “Carandiru” von Sao Paulo mindestens 111 Insassen erschossen. Die politisch Verantwortlichen und die direkt Beteiligten blieben bisher straffrei. In “Carandiru” ereignete sich auch Ende Oktober wieder eine Revolte: 670 Gefangene nahmen 27 Wärter als Geiseln und forderten die Verlegung in eine andere Haftanstalt. Fünf Häftlinge versuchten währenddessen in einem Müllwagen zu fliehen, vier von ihnen wurden von Militärpolizisten erschossen.
Klaus Hart
Der Autor ist freier Korrespondent in Rio de Janeiro
Wie analysiert Pritzker-Preisträger Paulo Mendes da Rocha in Sao Paulo die Stimmungslage im heutigen Brasilien? „Wir verwandeln uns in eine Gesellschaft, die monstruös zynisch sowie niedrig, gemein ist, die konformistisch das Desaster der Obdachlosen akzeptiert. Wir haben eine Gesellschaft, die so kolonialistisch wird, wie der originale Kolonialist. Sie ist ausbeuterisch, ohne jegliches Gefühl des Mitleids und der Solidarität mit dem anderen.”
Gerade im Vorfeld von Fussball-WM 2014 und Olympischen Sommerspielen 2016 scheinen auslaenderfeindliche Verbalattacken gegen mit Auslaendern verheiratete brasilianische Frauen zuzunehmen. Wie landesweit zu beobachten ist, werden diese regelmaessig an der Seite ihres auslaendischen Mannes, der ebenfalls einen Ehering traegt, als Nutten beschimpft. Die Verbalattacken kommen sowohl von Jugendlichen als auch von alten Menschen, darunter auffaellig vielen alten Frauen. Die Beschimpfungen treffen Brasilianerinnen der verschiedensten Berufsgruppen – von der Aerztin und Operationsschwester ueber die Bankmanagerin bis hin zur Anthropologin oder Biologin. Wie es heisst, waere riskant, sich beispielsweise gegenueber einer Gruppe von jungen Maennern gegen solche Verbalattacken zu verwahren – man riskierte, Opfer brutaler Gewalt zu werden. Bereits seit Anfang der 80er Jahre sind Vorfaelle bekannt, bei denen solche Auslaenderfrauen von Brasilianern aller gesellschaftlichen Schichten als Nutten beschimpft und entsprechend behandelt wurden – ob in Rio de Janeiro, Sao Paulo oder selbst an belebten Straenden des Landes. Da es sich um politisch unkorrekte Sachverhalte handelt, gibt es darueber auch u.a. keinerlei Berichterstattung.
« Brasiliens führende Medienzeitschrift „Imprensa“ bewertet erstmals diese Hobby-Website in einer Kolumne. 2010 monatlich Leser in über 110 Ländern, Pagerank 4. – Bienenfresser, Mai 2009, bei Halle/Saale. »
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