Klaus Hart Brasilientexte

Há vinte e poucos anos, quando cheguei à Serra do Esteváo, em Dom Maurício (distrito de Quixadá, 168 km de Fortaleza), existiam 83 olhos d´água. A flora e a fauna ainda eram riquíssimas e o clima, ameno e gostoso. Por isso, os turistas europeus costumavam chamar o lugarejo de ´Suíça do sertáo´.

Atualmente, devido à falta de consciência ecológica, restam apenas quatro olhos d´água. O pouco da mata é cinza e quase todos os animais foram mortos ou expulsos pela voracidade destrutiva do homem. Um lugar táo próspero e belo caminha para a incerteza e a escuridáo, como alguém que perdeu a visáo e tateia à beira do precipício.

É fato que a natureza agoniza pelo Brasil afora. O País carece de uma maior proteçáo sobre suas fontes naturais de água. Náo é preciso ir muito longe para perceber o descaso do poder público com as fontes de água que fazem um ecossistema funcionar e ainda lhe dáo beleza. Um exemplo sáo os olhos d´água que dáo vida à populaçáo de Iguape, distrito de Aquiraz (30 km de Fortaleza), e que servem os moradores pobres da praia do Presídio. Lá no Presídio, existem duas fontes naturais de água. Uma delas fica à margem da estrada, logo que se vai chegando a Iguape. Parece um banheiro público onde se toma banho e se faz necessidades fisiológicas a céu aberto. Nos fins de semana, feriados e carnaval, ela se torna um concorrido balneário e, entre garrafas quebradas, camisinhas e excrementos, há quem consiga tirar água para beber.

A outra fica à beira mar. Surge como um filete d´água no sopé de uma montanha de areia, meio encoberto por arbustos de praia. O que tem de rústico tem de bonito. Mas esse olho d´água foi aprisionado na praia d´O Presídio pela ganância imobiliária. A populaçáo põe em dúvida a legalidade da obra. Sei que ele está sendo torturado no pau de arara de sua devastaçáo e levando choque elétrico com os postes fincados em suas encostas.

Náo vai demorar para, no lugar do olho d´água, escorrer um esgoto a caminho do mar.

JOSÉ MARIA SARAIVA NOGUEIRA JÚNIOR
Auditor fiscal do Trabalho

http://www.hart-brasilientexte.de/2008/11/18/saraiva-junior-kolumnist-in-fortaleza-immer-mehr-obdachlose-auf-den-strasen-aber-die-regierungen-sind-eher-bereit-den-bankiers-mit-geld-zu-helfen/#more-1251